Texto por: Marcelo Delvaux

Dando continuidade às nossas explorações na Cordilheira Vilcanota, nos Andes peruanos, em julho de 2023 retornei, novamente, à região do Nevado Chumpe (Jatunriti), desta vez com o Luiz Valério Pedrosa Cavalieri. O objetivo nesse ano era subir um cume virgem sem nome de 5694 m, que denominamos P. 5694, localizado na aresta que separa os nevados Chumpe (6106 m) e Jatunñaño Punta (5815 m).



A expedição durou 8 dias e, em linhas gerais, seguiu o itinerário que eu havia percorrido em 2022, quando escalei outro cume virgem dessa região em solitário (o P. 5780): Pacchanta, Laguna Ticllacocha, Quebrada Jampamayo, Quebrada Acero, Murmurani, Laguna Sibinacocha, Quebrada Puca Orjo, Laguna Chuyanecocha, Laguna Huarurumicocha, Laguna Mullucocha, Laguna Pucacocha e Laguna Singrenacocha.

Percorremos cerca de 80 km no total, com aproximadamente 8600 m de desníveis acumulados. No caminho foi preciso superar 3 “passos” acima de 5 mil metros, o Abra Jampa (5073 m), o Abra Huayruro Punco (5423 m) e o Abra Chumpe (5382 m).



Montamos 2 acampamentos intermediários, o primeiro na entrada da Quebrada Acero e o segundo perto de Murmurani, acima da Laguna Sibinacocha. O acampamento base foi estabelecido na Quebrada Puca Orjo, antes do Abra Chumpe.

Quando cruzamos o Abra Huayruro Punco, aproveitamos para subir até o cume do Nevado Huayruro Punco (5500 m), cuja localização privilegiada permite avistar todas as 6 montanhas acima de 6 mil metros da Cordilheira Vilcanota.




Nesse ano havia muita neve acumulada no imenso glaciar sul do Nevado Chumpe, dificultando bastante a progressão pelo glaciar, pois em alguns pontos afundávamos na neve acima dos joelhos, além de tornar mais complexa e perigosa a tarefa de cruzar suas inúmeras gretas, já que muitas estavam quase invisíveis, cobertas por uma instável camada de neve. Na parte alta da montanha, já próximo ao cume, inesperadamente apareceram os “penitentes”, espécie de torres de gelo que limitam os movimentos e tornam a ascensão bastante lenta e penosa. A combinação de acúmulo de neve e penitentes levou-nos a um ritmo bem mais lento do que esperávamos e a ascensão durou cerca de 16 horas no total, ida e volta, do acampamento base até o cume.



A rota se inicia em uma língua glaciária que descobri em 2022 e que permite o acesso ao glaciar sul do Nevado Chumpe. Segue em direção ao P. 5780 (escalado no ano passado) e sobe ao colo que separa o Chumpe do Jatunñaño Punta. Desde o colo inicia-se a escalada final pela face noroeste do P. 5694.



A vista desde o P. 5694 é espetacular, com uma visão privilegiada dos diversos cumes dos nevados Chumpe (6106 m) e Colque Cruz (6102 m) e, à oeste, de outras 3 montanhas de 6 mil metros, o Ausangate (6372 m), o Cayangate (6110 m) e o Jatunhuma (6094 m).





O retorno foi feito cruzando-se o Abra Chumpe (5382 m), montando-se um último acampamento na Laguna Huarurumicocha para, então, descer até a Laguna Singrenacocha.